segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012: Varejo sem crise

Por Patrícia Büll

O consumo continuará aquecido no ano que vem devido ainda ao aumento de renda nas camadas mais pobres, levando o setor varejista – incluindo o segmento de supermercados – a superar mais uma vez a economia.

A economia é dinâmica e o cenário que parece certo hoje pode não se confirmar amanhã, dependendo de como os fatores evoluem. Atualmente, por exemplo, uma das maiores dúvidas dos economistas é o impacto que a crise europeia poderá ter no Brasil no ano que vem. A expectativa deles é de que o PIB (Produto Interno Bruto) termine este ano entre 3,3% e 4,3%. Para 2012, as previsões são de alta de 3% a 4%. Já em relação ao varejo, ainda em função dos ganhos de renda da população, apontam expansão de até 7%, indicando mais um ano sem crise para o setor.

Uma prova disso é a disposição das empresas de autosserviço em investir. Segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), no ano que vem, o setor vai aplicar R$ 5 bilhões em construção e reforma de lojas, além de tecnologia. Para Sussumo Honda, presidente da entidade, a expectativa quanto às vendas também é positiva. Afinal, o reajuste do salário mínimo em 2012 ficou acima do esperado, alcançando R$ 622,73, alta de 14,3% em relação ao valor atual. Isso significa que mais de R$ 40 bilhões serão injetados na economia e poderão ser destinados ao consumo. Hoje, quase 50 milhões de brasileiros têm remuneração atrelada ao mínimo.

Para se ter uma ideia dos efeitos de uma nova alta na renda, as vendas de alimentos poderão crescer 4,5% em volume e 3,5% a 4% no faturamento em 2012, conforme a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação). Neste ano, apesar de uma acomodação desde agosto, o mercado deve fechar com receita 5% superior aos R$ 330 milhões de 2010, já descontada a inflação do período.

Outro segmento que espera expansão em 2012 é o de produtos de limpeza. Segundo a Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins), o aumento deverá ser dois a três pontos percentuais acima do PIB, enquanto neste ano o crescimento estará alinhado com o da economia. Maria Eugenia Proença Saldanha, presidente executiva da entidade, lembra que o avanço se justifica pelo fato de os produtos serem considerados essenciais pelo consumidor.

Conjuntura dá sinais de reação

Entre os fatores que contribuirão para que o consumo mantenha sua trajetória de ascensão, está o processo gradual de redução da Selic, taxa básica de juros, iniciado no final de agosto e cujos efeitos positivos serão mais sentidos a partir do primeiro trimestre do ano que vem.

Outro indicador que aponta um cenário favorável às vendas é o de Perspectiva Econômica, medido pela Serasa Experian, que tem como proposta sinalizar os movimentos da economia para os próximos seis meses. A boa notícia é que a leitura de agosto mostrou uma inversão no comportamento até aquele mês, quando voltou a ficar positivo. O aumento foi de apenas 0,1%, atingindo 98,8 pontos, porém marca a primeira alta desde outubro de 2009.

Essa mudança de direção apontada pelo indicador mostra que o atual processo de desaceleração da economia deverá se encerrar neste ano, com a atividade econômica recuperando-se a partir dos meses iniciais de 2012. De acordo com a análise da Serasa Experian, o reajuste de 13% previsto para o salário mínimo e as eleições municipais são elementos que também deverão contribuir para uma economia mais aquecida no ano que vem.

Expectativas para o PIB

Por conta desses indicadores, Luiz Goes, sócio-sênior da consultoria GS&MD – Gouvêa de Souza, acredita que a economia vai crescer 4% no ano que vem, repetindo o percentual de 2011. "Depois de anos seguidos de crescimento exuberante das compras no mercado interno, problemas de logística e de qualidade de mão de obra ficarão mais evidentes nos próximos anos à medida que a economia amadurece, o que poderá reduzir o ritmo de expansão", afirma Goes.

Já a consultoria LCA projeta um crescimento de 3,3% da economia em 2012, revisando a projeção anterior de 3,5%. Boa parte dessa ligeira queda nas expectativas se deve à redução da Formação Bruta e Capital Fixo, que representa os investimentos realizados na economia. Segundo Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, ao esperar um crescimento menor, os agentes econômicos reduzem os gastos e investimentos e justamente isso contribui para a menor expansão.

Classes mais baixas continuam puxando Consumo

"Ainda falta muita gente ganhar poder de consumo, e a tendência é de que isso ocorra por meio do incremento da classe C, que deverá continuar nos próximos anos, embora em ritmo menor do que nos últimos.” Quem afirma é Luiz Goes, sócio da GS&MD – Gouvêa de Souza. É o que comprova pesquisa do instituto Data Popular indicando que até 2014 a classe C aumentar sua participação, respondendo por 58,3% do total dos brasileiros. Hoje, dos cerca de 193 milhões de habitantes do Brasil, 53,9% pertencem a essa classe social. Para Denis Ribeiro, economista da Abia, essa camada ascendente incorporou um novo padrão de consumo difícil de retroceder. E isso é bom para a economia como um todo.

Inflação começa a cair

Com um PIB mais comportado, a inflação também deverá registrar redução no ano que vem. A expectativa é de que o índice se aproxime do centro da meta de 4,5% ao ano estabelecida pelo Copom (Conselho de Política Monetária do Banco Central), com margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. "Com a estabilização do crescimento da economia nos mesmos níveis de 2011 – que apostamos em cerca de 4% sobre 2010 – a inflação também deverá voltar a patamares mais aceitáveis", afirma Goes, da GS&MD.

Já para a consultoria Tendências, a inflação deverá cair para cerca de 6% em 2012, mantendo-se assim abaixo do teto de 6,5% almejado pelo Banco Central, mas ainda acima do centro da meta. Para este ano, a consultoria acredita que a inflação superará o teto, atingindo de 6,6% a 6,8%.

Seja como for, uma coisa parece certa. O setor de varejo – incluindo o supermercadista – vai continuar em ascensão, ainda que em ritmo menor do que o de 2010. Afinal, os ganhos de renda continuam contribuindo para que as pessoas comprem mais e melhor. E é nisso que o supermercadista precisa se concentrar: em maneiras de atender cada vez melhor seus clientes.

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