Gastando R$ 50 cada, os lojistas da Rua Saldanha Marinho, no Centro de Curitiba, perceberam que a união do grupo tem potencial para reverter o processo de degradação do local. A constatação foi feita em 2010, às vésperas da Copa do Mundo, quando os comerciantes fizeram uma vaquinha para decorar a via com as cores da seleção. A homenagem não ajudou a render um bom futebol do time nacional, mas a clientela local respondeu ao atrativo e, pela primeira vez em muito tempo, o calçadão registrou um aumento perceptivo no fluxo de pessoas.
Mais de um ano depois, os comerciantes da Saldanha Marinho tentam ampliar a articulação. O objetivo é pressionar o poder público para a realização de obras de infraestrutura, e também garantir que cada um faça a sua parte. “Se cada pessoa pintasse o seu imóvel, ficaria um pouco melhor. O problema é que as pessoas ficam esperando o dono [locador] fazer”, critica João Alves Antunes, proprietário de uma tabacaria na rua.
Da prefeitura, o grupo espera um trabalho de revitalização semelhante ao realizado em outros pontos da cidade. A principal queixa é quanto à falta de iluminação, o que atrai criminosos, e ao calçamento irregular, que afugenta cadeirantes e demais pessoas com dificuldade de locomoção. “A pessoa de bem só passa por aqui uma vez; depois não vem mais”, lamenta-se Antunes.
A falta de segurança é reconhecida como o problema gerador dos demais. Após as 18 horas, quando as portas baixam, o local se torna ponto de consumo de crack. A má-fama noturna atinge os negócios do dia claro. “Precisamos tirar essa fama negativa da Saldanha Marinho”, sentencia Regina do Rocio Faria, dona de uma sapataria.
Recentemente, os lojistas ficaram esperançosos ao ver o início da reforma na Catedral de Curitiba, no início da rua. “Custava continuar um pouco mais para cá”, brincam ainda hoje os comerciantes. Agora, eles esperam que a movimentação em torno da Copa do Mundo de 2014 renda investimentos na rua. Por enquanto, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) não tem projeto divulgado para a rua.
Sobrevivência
A organização entre lojas em um mesmo ponto tornou-se importante a ponto de ser relacionada à sobrevivência do comércio de rua. “O comerciante não está mais competindo com o vizinho, e sim com um mercado mais globalizado”, diferencia Osmar Dalquano Júnior, coordenador de Varejo de Bens e Serviços do Sebrae-PR e um dos responsáveis pelo Programa de Revitalização de Espaços Comerciais, uma iniciativa conjunta de organizações do setor.
Entretanto, os consultores reconhecem que os investimentos públicos são essenciais à recuperação de um espaço. A obra, porém, vai ser feita apenas se os comerciantes mostrarem aos tomadores de decisão que a ação vai trazer benefícios amplificados para a comunidade. “A melhor maneira é formar um grupo de lojistas e empresários que pressione e desenvolva um projeto sólido para a área”, recomenda Antonio Miguel Espolador Neto, vice-presidente da Associação do Paraná e coordenador do projeto Centro Vivo.
Foi a estratégia adotada em Londrina, no Norte do Paraná, pelos lojistas da Rua Sergipe, uma das mais tradicionais da cidade. Agregando mais de 700 estabelecimentos varejistas, o Comitê Gestor da Nova Sergipe firmou parceria com a prefeitura para a revitalização do local. As antigas calçadas de petit-pavé serão substituídas por um piso mais linear. Os comerciantes custearão a reforma, com recursos de uma cooperativa de crédito, e a prefeitura vai retirar o calçamento antigo, o que reduzirá o custo final em 60%, de acordo com o projeto.
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