Sem dúvida a ascensão da nova classe média tem trazido benefícios para a economia e mais especificamente para o varejo. Mas junto com esse acesso e suas vantagens é preciso
pensar também em problemas como a alta rotatividade que há entre os colaboradores e o que o varejo precisa fazer para retê-los. Pensando nisso, representantes do Pão de Açúcar, Magazine Luiza, Telha Norte, Le Postiche, Ri Happy e Portobello se reuniram na plenária de hoje para discutir o tema: “o engajamento do capital humano para o crescimento sustentável do varejo”.
Mediados pela jornalista Christiane Pelajo, a primeira questão que veio à tona na cabeça dos varejistas foi como convencer seu colaborador de que apesar do varejo possuir uma rotina frenética, com trabalhos aos finais de semana, metas e horas extras, é possível obter também qualidade de vida.
“É mais caro buscar e treinar do que reter. Sabemos que o varejo não é o objeto dos sonhos de ninguém, mas é possível pensar sim em um plano de carreira dentro dele, ainda que isso não aconteça de imediato”, explica Juarez Leão, diretor de varejo e franquia da Portobello, aproveitando para acrescentar que o perfil dos funcionários está mudando e que hoje eles prezam mais pela qualidade de vida, do que necessariamente pela remuneração. “No passado fazia-se de tudo para bater meta, inclusive puxar tapete, ao ponto de criar um clima neurótico de trabalho e perda de qualidade nas relações. Hoje é preciso haver um equilíbrio na empresa para que não se foque só nisso”, completa Leão.
Diante desse cenário os convidados foram unânimes ao dizer que os benefícios oferecidos por cada uma de suas empresas pode fazer toda a diferença na hora do profissional pensar em procurar um varejista concorrente. Plano de carreira; auxílio-creche, educação, saúde e demais serviços ligados a responsabilidade social, ou até mesmo atividades esportivas, como no caso do Grupo Pão de Açúcar, podem ajudar. “Uma das nossas maiores ferramentas de retenção indireta de pessoas é o GPA Clube, um grupo de corrida e caminhada que costuma atuar em São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste. Afinal, a qualidade de vida já é um pré-requisito para quem quer trabalhar no varejo”, explica Hugo Bethlem, vice-presidente do Pão de Açúcar.
Para Leão essas medidas precisam ser estendidas inclusive aos franqueados. Já Manoel Corrêa, presidente do Telha Norte, acredita que identificar os valores da empresa é preponderante. “Para isso temos inclusive uma cartilha com nove valores voltados para diversidade e respeito”.
Aliado a essas possíveis soluções, Ricardo Sayon, presidente da Ri Happy, lembra que “o varejo é o segmento estupidamente menos privilegiado no que diz respeito às leis trabalhistas, e olha que somos os maiores empregadores do País! As possibilidades de mudança, adequação e enquadramento das necessidades especiais estão mudando lentamente quando comparadas a outros setores”, revela.
Telma Rodrigues, diretora de recursos humanos do Magazine Luiza, compartilhou da mesma opinião, mas destacou que com o esforço coletivo de todos os envolvidos é possível reverter esse cenário do varejo no Brasil. “Há alguns estudos sobre leis trabalhistas desenvolvidos pelo Instituto do Varejo. Isso pode ser um começo”.
Como engajar a geração Y?
Os convidados também concordaram com a idéia de que essa geração é mais antenada e preparada para executar muitas tarefas ao mesmo tempo, mas no caso do varejo é preciso considerar um detalhe na hora da contratação: “eles têm problemas com hierarquia porque às vezes não trazem isso de casa”, explica Bethlem.
“Na verdade o interesse deles é superficial e consequentemente se tornam mais descompromissados. Por isso, embutir novos valores para essa geração acaba se tornando desgastante”, complementa Alessandra Restaino, presidente da Le Postiche.
Por outro lado, Telma Rodrigues lembra de alguns valores trazidos por esse novo perfil de colaborador: “Nós, que viemos antes dessa geração do ‘eu já sei’ e somos pais, contribuímos para isso. Mas é preciso não se esquecer de que eles também trazem valores fortes e não abrem mão disso. Ou seja, quando eles acreditam numa causa, que vai além de um plano de carreira, eles acabam se envolvendo mais com a empresa contratante”.
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